O mundo às avessas de Grimmelshausen
Resumo
No ano de 1672, Hans Jacob Christoffel von Grimmelshausen publicou O mundo às avessas do aventuroso Simplicissimus (Des abenteuerlichen Simplicii verkehrte Welt"), em que Simplicius Simplicissimus, personagem recorrente nas obras do autor, relata sua viagem ao Inferno e seu retorno para casa. No submundo, o viajante observa os castigos dos pecadores e depois lhes conta a situação atual do mundo dos vivos, que parece ser um lugar de plena harmonia, livre de vícios, sofrimentos e conflitos religiosos, políticos e bélicos, isto é: muitos dos problemas que existiam quando os condenados povoavam a superfície terrena parecem estar solucionados; e o verdadeiro mundo tal como conhecemos, habitado pela personagem, descrito em O aventuroso Simplicissimus (1668/1669), sob o pano de fundo da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), encontra-se às avessas. Elaboradas em diversas regiões da Europa ocidental, as imagens de inversão receberam inúmeras abordagens, identificando-se na Cocanha, no grotesco rabelaisiano, nas fantasias carrolianas, etc. Na Idade Média e durante as reformas luterana e católica, muito comuns eram as representações admoestadoras de um mundo de ponta cabeça, um mundus perversus, caótico e grotesco, contraposto à civitas dei agostiniana, ideal e virtuosa. O mundo às avessas do aventuroso Simplicissimus não é, ao contrário, uma inversão da civitas dei: é a superfície terrestre que se encontra de ponta cabeça. Acolhendo a tradição platônica, Grimmelshausen criou um mundo ideal que assume características utópicas e, ao mesmo tempo, discute tópicos fundamentais da Alemanha seiscentista.
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PDFReferências
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